São José

    São José, homem de fé e coragem.

    Neste ano por ocasião do 150º aniversário da Declaração de São José, como padroeiro Universal da Igreja, muito tem se falado da figura do pai adotivo de Jesus. Não temos muitos relatos através dos Evangelhos que nos evidenciam como era a vida deste homem tão importante no mistério da Encarnação.

    Para darmos início a nossa reflexão, vamos buscar uma possível linha do tempo em que possamos descrever alguns fatos para nos ajudar. O Evangelho de Lucas tem seu início apresentando uma situação comum na época: José, descendente de Davi, é noivo de Maria. Compromisso que dava status de casamento, embora ainda não coabitassem; ela provavelmente sem dar muitas explicações parte para uma região montanhosa, da Judeia, para visitar sua prima Isabel e por lá ficou por três meses (Lc 1,26ss). Neste cenário, José fica no aguardo do retorno de sua noiva, e esta quando volta para casa em Nazaré, já transparece os sinais da gravidez. Quais seriam os comentários naquela pequena cidade, que sem entender o que aconteceu naquela viagem, sabe-se que, na época, as viagens eram feitas em caravanas, devido aos perigos que poderiam acontecer na trajetória.

    Aqui encontramos o nosso bom José, um homem temente a Deus e Justo, que quer dizer observador da Lei. Ele ainda não tinha a compreensão do que poderia ter ocorrido com sua prometida, mas ele sabia o que poderia acontecer com ela: ser apedrejada até a morte. Que dilema vivido pelo nosso personagem, o que ele poderia fazer? Entregar Maria, para que a Lei se cumprisse, ou proteger a sua amada? Estamos aqui, mais ou menos, no ano zero da era cristã, no que prevalecia era a lei do Talião “Olho por olho, dente por dente”. Teríamos que imaginar costumes de um povo milenar, que a decisão era dos homens, a mulher aqui não tinha vez e nem voz. A decisão seria toda de José e o que ele no fundo do seu coração decide? Abandonar Maria, assumindo, assim, no silêncio, a possibilidade de sua prometida ser poupada do rigor da lei. Imaginemos como o coração de José se angustiou, que decisão dolorosa ter de abandonar Maria, pois até o momento ele não sabia o que realmente havia ocorrido com ela.

    A nossa certeza é que Deus conhece nossas aflições (Ex 3,7b), e vem ao encontro das angústias do nobre noivo, e através do Anjo do Senhor, em sonho revela a José, toda sua missão: ser o guardião do Filho de Deus e, além, dar o nome que na Bíblia quer dizer a missão da pessoa. Jesus, na língua hebraica é Yeshua, é um termo que significa “salvar” ou "salvação". Por isso no sonho José é avisado que o filho de Maria salvará o povo de seus pecados. (Mt 1, 21b).

    Com o nascimento de Jesus, como descreve Lucas, em Belém da Judeia, cidade de Davi, José passa por uma experiência difícil. Acreditar que o Messias, aquele que fora prometido por Deus para ser o Salvador, nasce num estábulo, estábulo esse que depois é visitado por pobres pastores, que descrevem que tiveram visões de anjo, que apontavam o lugar que iriam encontrar o Cristo-Senhor, envolto em faixas, deitado numa manjedoura. Fico a imaginar, qual seria o sentimento de José diante de um fato tão espetacular como este? E isto nos recorda o Papa Francisco: “.. José deixa de lado os

    seus raciocínios para dar lugar ao que sucede e, por mais misteriosos que possa aparecer a seus olhos, acolhe-o...” (Patris Corde)

    Mas a vida não é feita só de momentos extraordinários e devido ao risco de morte que corre o Menino, José novamente avisado em sonho, tem que fugir para o Egito. Recomeçar a vida numa terra estrangeira, isto me recorda uma reflexão livre de Padre Giocondo, nas orientações Espirituais nº 30: “... José parte para o Egito e lá, com seu trabalho e esmolas, mantém a sagrada família...”. Realmente não temos relatos de como foi a sobrevivência da família de Nazaré no Egito, como foi a acolhida, porém podemos supor que José não mediu esforços para prover o necessário para o Menino Jesus e sua mãe, até a possibilidade do retorno para Nazaré, após a morte de Herodes.

    Os relatos bíblicos não nos dão muitas descrições de como foi o relacionamento de Jesus com seus pais. Todavia, podemos perceber que o Menino era obediente, como nos descreve o evangelista Lucas, após o reencontro deles no templo: “Desceu com eles para Nazaré e era-lhes submisso” (Lc 2,51), e as pessoas reconheciam Jesus como filho de José, o carpinteiro (Mt 13,55). Mesmo não tendo as descrições necessárias deste ambiente familiar de Jesus, podemos perceber na vida pública do Cristo, de como as pessoas ficavam fascinadas com aquele jovem pregador de Nazaré. Podemos arriscar a afirmar que muito da humanidade de Jesus, através do seu comportamento junto aos mais fragilizados deva vir do exemplo de seus pais e que José teve uma participação muito ativa na formação, porque sabemos, segundo alguns historiadores, que o adolescente a partir dos 12 anos, já acompanhava o pai nas sinagogas e no templo ficava junto do pátio, reservado aos homens.

    Neste ano, em que o Papa Francisco declarou ano Josefino, voltamos nosso olhar a José, que mesmo diante de seu silêncio nenhuma palavra ele profere nos Evangelhos, mas sua atitude de coragem diante do Mistério de Deus, revelado no intimo do seu coração, através dos sonhos, nos ensina em quem devemos colocar nossa esperança como nos exorta o salmo 27,14: “Espera no Senhor, sê firme! Fortalece teu coração e espera no Senhor!”.

    Concluo esta reflexão convidando a todos que sejamos fortes na esperança, a exemplo de José e acreditemos que todos esses desafios que estamos enfrentando, diante desta pandemia, vão passar. 

    Ir. Marilda Ferreira

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