Páscoa de Cristo, Páscoa do universo!

    Em sua origem, a Páscoa é uma festa da primavera. Rompendo o rigor do inverno, a primavera trazia, além das flores, a colheita da cevada e a festa-oferenda do reconhecimento de que todos os bens são para serem usados, não segundo a lógica da posse, mas como dons recebidos da boa vontade divina. Nos dias da festa, o sinal da verdade do rito era a partilha fraterna para que os pobres também pudessem gozar da alegria da bênção.

    A experiência do Êxodo fez o povo de Israel dar novo significado a esta festa. Sem negar seu sentido, Israel radicalizou a Páscoa a partir do evento central de sua história: a libertação do Egito, que inclui a saída da escravidão e a chegada à terra prometida, passando pelo compromisso da aliança, no Sinai. Relacionou a fartura dos frutos, como dom de Deus, à sua livre e misteriosa intervenção na história.

    As comunidades cristãs acrescentaram novo significado à festa da Páscoa hebraica, a partir da morte-ressurreição de Jesus, apresentada como re-leitura do Êxodo. Guardaram a relação entre Páscoa e primavera, já que nos países do Norte celebra-se a Páscoa na primavera, tendo na própria natureza sinais bem sensíveis do mistério-passagem da morte à ressurreição. Para nós que vivemos em outro hemisfério, em pleno outono, a ênfase é dada à dimensão histórica. Mas a primavera expressa a vitória da vida sobre a morte.

    Esta relação entre Páscoa e primavera desperta nossa atenção para o potencial cósmico da liturgia pascal: a celebração iniciada ao ar livre, a noite iluminada, a água batismal, o final da celebração ao nascer do sol... Estes elementos cósmicos com leituras bíblicas, cantos, orações e gestos corporais, tratados com reverência em nossa celebração, expressam, no plano simbólico, o mistério pascal de Cristo, possibilitando nossa participação nesta passagem da morte à vida, das trevas à luz, com o universo em trabalho de parto e na expectativa da plena libertação.

    Na ação ritual, o Espírito que faz novas todas as coisas despertará em nós o reconhecimento do cosmo como sacramento essencial da manifestação de Deus, e o desejo de assumir uma ética de compaixão e cuidado para com as pessoas e a criação, como atitude decorrente da Páscoa que celebramos.

    Como vocacionados, recebemos um convite de Deus para sermos pessoas de relações, cuidadoras do cosmo. "Quando amamos, cuidamos e quando cuidamos, amamos" (Leonardo Boff). O cuidado é aquela condição prévia que permite o aparecimento da inteligência e da amorosidade, sentido que se concretiza em preocupação, desvelo e solicitude para com o outro, com a humanidade e com o Planeta. O cuidado possui um sentido ético e ecológico. Sem essa atitude, nada que é vivo sobrevive. O que cuidamos durará mais e ressurgirá como o Cristo, e o "sertão se abrirá em flor, da pedra água sairá, e da noite o sol surgirá, glória ao Senhor!" (cf. Reginaldo Veloso).

    Ir. Alexsandra Carneiro Costa

Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para lhe oferecer uma melhor experiência e serviço. Ao ACEITAR, você concorda com este monitoramento. Para remover os cookies, clique aqui.
Conheça nossa Política de Privacidade.

Política de Privacidade
Copyright © 2014 VIVERE
TRANSPARÊNCIA